Mirabilis Deus in sanctis suis
Assim como, para enaltecer a Virgem Maria, basta dizer que dela nasceu Jesus Cristo (“de qua natus est Jesus”), assim também, nada melhor, mais glorioso, para enaltecer Santana, do que dizer que dela nasceu a Mãe de Deus, Maria Santíssima, na sua conceição imaculada.
Quando toda Israel aguardava a vinda do Messias Prometido, nasceu, em Belém, a menina Ana, filha de Nathan, sacerdote de Belém, da Tribo de Levi e da família de Aarão e de Maria, da tribo de Judá. Era um casal respeitado, pela vida exemplar que levavam e pelo testemunho de uma espiritualidade profunda. Tiveram três filhas: A mais velha chamava-se Maria, como a mãe. Era esposa de Cléofas. Tiveram como filhos, São Tiago, São Judas e São Simão, chamados de irmãos de Jesus, embora fossem, apenas, primos, pois filhos de uma tia da Santíssima Virgem Maria. A segunda irmã de Santana chamava-se Sobeth, Mãe de Santa Isabel, prima de Nossa Senhora.
A terceira filha de Nathan e Maria foi Santana a quem Deus concedeu a graça de dar ao mundo aquela que deveria ser a Mãe do Salvador. Que família santa era a família de Deus.
Se as suas duas irmãs mais velhas Maria e Sobeth geraram filhos santos, a Santana coube um privilégio muito maior: dar à luz a Santíssima Virgem Maria, Mãe do Filho de Deus.
Uma pessoa tão santa como Ana, Santana, só podia aceitar por marido, um homem também santo, como São Joaquim, natural de Nazareth, da família de David. Descendentes de famílias nobres, nobreza de condições e de sangue, o casal Joaquim e Ana vivia, entretanto, uma condição de vida econômica mediana, condição de vida de classe média.
Viviam o espírito de pobreza e não se descuidavam de ajudar aos mais pobres. São Joaquim morava perto de Jerusalém, nas proximidades da famosa fonte, conhecida como Piscina Probática. Possuía numeroso rebanho. Todos os anos, ele oferecia muitos cordeiros, para o sacrifício, no templo. Uma vez, o sacerdote não quis mais aceitar a sua oferta, dizendo-lhe que ele não era digno de oferecer os seus dons, porque ele ainda não havia dado ao Senhor o fruto da primogenitura de Israel. Joaquim e Ana se amavam, verdadeiramente, mas não tinham filhos, pois Ana era estéril. – E os Sacerdotes, segundo a mentalidade da épica, viam, na esterilidade, uma maldição divina. Aquele velho e santo pastor, entre lágrimas, se recolhia em orações e jejuns, suplicando a ajuda de Deus.
Naquela época, a mulher estéril passava por grandes humilhações. E Santana experimentava aquele tipo de sofrimento. E, recordando o que havia acontecido com Abraão e Sara, Santana, orando, um dia, no templo, suplicou, ardentemente, ao Senhor que, fosse de Sua Vontade, se dignasse olhar, com olhos de misericórdia, a sua extrema aflição. E prometeu que, se lhe fosse concedida a graça de ter um filho, haveria de consagrá-lo a Deus. Foi, sem dúvida, por inspiração divina, que Santana fez aquela prece a Deus. – E o Senhor ouviu as preces daquele santo casal. – E qual não deve ter sido a alegria de são Joaquim, quando a sua esposa Ana lhe disse que havia recebido a visita de um mensageiro de Deus, dizendo-lhe que o seu marido Joaquim haveria de dar-lhe um filho!
E nasce Maria, sem a mancha do pecado original, grande dom de Deus, não só para aquele santo casal, mas para toda a humanidade.
Então São Joaquim ofereceu os seus dons a Deus e o Sacerdote, estendendo as mãos sobre a menina, elevou a Deus esta prece: “Deus dos nossos pais, abençoai esta criança e fazei com que o seu nome permaneça célebre, em todas as gerações”.
Se a presença da Virgem Maria Imaculada, que trazia, no ventre de sua mãe Santa Isabel, podemos imaginar que tesouro de bênçãos e de graças não teria Deus derramado sobre Santana, no momento da concepção imaculada daquela que foi destinada a ser a mãe do messias prometido, o Filho de Deus, o Salvador!
Podemos imaginar a santidade de Ana, durante aqueles nove meses em que trazia, em seu ventre materno, aquele dom de Deus, aquele precioso tesouro, a filha, concebida sem mancha do pecado original. Afinal, Santana trazia, em seu ventre materno, aquela que haveria de trazer, no seu, o Salvador do mundo.
A vida de Santana, como a vida de sua filha Maria Santíssima, devia ser uma vida de contínua contemplação, prelibação das alegrias celestes.
Como, pelo fruto, se conhece a árvore, que ideia podemos fazer das sublimes virtudes do ditoso casal Joaquim e Ana, Pais de Nossa Senhora, correspondia, por certo, com a santidade da filha que eles deram ao mundo, filha que se tornou a Mãe de Deus, por obra do Espírito Santo.
Só mesmo de um casal muito santo, poderia ter nascido Maria, a Virgem Santíssima, a Mãe do Salvador da humanidade.
E como São Joaquim e Santana cuidaram, com todo esmero, daquele precioso tesouro que Deus confiara a seus cuidados!
Com razão, a iconografia costuma apresentar Santana como a Mestra de Maria Santíssima. – E não é difícil imaginar os cuidados, a solicitude, a ternura de Santana, para com a sua filha, dotada, mais que qualquer outra criatura, da graça de Deus que a envolveu, desde a sua concepção, por um privilégio singular.
É impossível descrever, com precisão histórica, a vida dos avós de Jesus, pois os livros sagrados pouco se referem a eles. E se quisermos satisfazer, um pouco, a nossa curiosidade, devemos nos contentar com um texto apócrifo do segundo século, o Proto Evangelho de São Marcos, onde se narra a história do nascimento de Maria Santíssima.
Todos os santos são dignos de nossa veneração, do nosso profundo respeito, do nosso amor e confiança. Mas, entre todos, depois de Maria, Mãe e Rainha de todos eles, qual merecia mais a nossa homenagem, o nosso louvor, a nossa admiração, senão aquela que é a Mãe da Santíssima Virgem, a Mãe da Mãe de Deus?
Que lugar estará ela ocupando no céu, junto do seu neto, que é também o seu Deus!
Deus de atender às súplicas da avó de seu Filho Unigênito, deixaria de atender à Mãe de sua filha predileta Maria Santíssima?
Como poderia ser negado um pedido de Santana, se, de um certo modo, o seu sangue, que é o sangue de Maria, corre pelas veias de Jesus Cristo, o Filho de Deus?
Ó Deus que nos dignastes conceder a Santana a graça de ser a Mãe da Mãe do Vosso Filho Jesus Cristo, concedei-nos, por Vossa Bondade, seguir os exemplos de fé e de vida santa que Santana nos oferece, para que possamos merecer o patrocínio, a intercessão daquela cuja festa, hoje, solenemente, celebramos.
Isto Vos pedimos, por Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.